Postagem, outra vez, ao som da chuva.
STREEPTEASE DAS CIGARRAS
(Para Júlia*)
(Para Júlia*)
Tenho visto no tronco
das árvores, cascas;
secas e sem vidas - de cigarras.
das árvores, cascas;
secas e sem vidas - de cigarras.
Um sopro e as garras,
soltam-se frágeis
e beijam o chão.
soltam-se frágeis
e beijam o chão.
O mesmo chão
que um dia,
abrigará minha casca.
que um dia,
abrigará minha casca.
A mesma terra-útero,
que se alimentará
de minha carne.
que se alimentará
de minha carne.
Minha roupa gasta,
ficará dentro de Gaia.
Ela soltará, minhas umbilicais-amarras,
ficará dentro de Gaia.
Ela soltará, minhas umbilicais-amarras,
me pararirá. E espantado darei,
meu derradeiro salto-mortal
no oco, do que ainda é mistério.
meu derradeiro salto-mortal
no oco, do que ainda é mistério.
...
Júlia, é minha sobrinha e tem 5 anos. Visitou-me na companhia dos pais no domingo passado. Está na idade natural das perguntas e curiosidades que nunca acabam. Fui levá-la para ver duas galinhas que estão chocando. Quando passávamos, debaixo do pé de manga – ela viu agarrada ao tronco; a casca de uma cigarra morta. Parou e perguntou-me em sua "inocência":
- É ela que canta tio? Eu já ví no livro da escola.
- É ela que canta tio? Eu já ví no livro da escola.
- É, Júlia, ela mesma.
- Por que ela não canta agora?
- É que... É que ela, Júlia, foi "canta" n´outro lugar.
Respondi, mas conhecendo sua curiosidade aguda, sabia que viriam mais perguntas.
- A cigarra voa tio?- Voa sim, Júlia.
- Então, faz ela voar...
A sapeca, me colocou em xeque. O mate? Sei que, eu o beberia, logo em seguida. Meio sem saída, soprei a casca, esperando que o vento a levasse ou quem sabe, se um "milagrezinho", não a faria ressuscitar, recobrando-lhe de imediato o prazer do vôo. Mas a casca "zigzagueou" e caiu no chão. Ela sorriu vitoriosa e fingindo surpresa, levou as duas mãozinhas à boca dizendo:
- Iiih tio, sua cigarra não voa!
- Ela já voou Júlia. É que ela... apenas esqueceu, a roupa dela pendurada, aí na árvore.
- Ô tio, então ela voou pelada, né!?
Me disse, cheia de si, gargalhando aos borbotões. Eu, ainda esperançoso e querendo sair do xeque-mate, dei minha última cartada. Eu tinha que, no mínimo empatar a brincadeira e tentei concordar com ela:
- Voou sim, Júlia. Voou, peladinha da silva!
Ela veio fervendo...
Ela veio fervendo...
- Deixa de ser mentiroso, tio! Eu sei, que ela morreu, tá?
- Vem-cá Júlia, Júlia...Júlia...
E foi saindo, sem olhar para trás, não queria mais ouvir, minhas lorotas. Parece-me que Júlia, não é do tempo em que, estórias assim, faziam bois e crianças dormirem. Desde cedo, Júlia, está aprendendo a pensar por si mesma. Júlia, é o futuro, e; comerá dos frutos, do pé de jabuticaba que já brotou, da semente que plantei para ela. E nenhum, BOI-DA-CARA-PRETA; há de assombrar, os sonhos de Júlia.
25 Comments:
Oi Dio,
Lindo poema, linda conversa, assim como linda deve ser sua sobrinha Júlia...
Sempre bom passear aqui....como andar na terra com pés descalços....
Beijos...
Oi Dio,
Lindo poema, linda conversa, assim como linda deve ser sua sobrinha Júlia...
Sempre bom passear aqui....como andar na terra com pés descalços....
Beijos...
Querido amigo Poeta-Escritor-de-mão-cheia, vc é fueda!! Não se desculpe por nada rsrs. Sobre o poema, acho grande demais, não? Tbm não sei bem como funcionam as coisas por lá, porém, fica à vontade aí, tá?
Julia... deve ser um doce, né? Apimentado, como todos os docinhos nessa idade rsrs. E vc, extraindo poemas de tudo, lapidando o ar bruto; a poesia que mora em sua volta, e nos dando de presente.
Brigadao, Dio!
[]´s
A história da Júlia é deliciosa e o seu poema, como sempre, é um "salto mortal" de palavras.
Um abraço.
, pelos teus poemas e prosas, ninho das pedras é algo como um país de maravilhas. algo mágico. quero mesmo conhecer estas bandas...
|abraços meus|
Oi Dio, muito lindo e profundo o seu poema. Quanto a história da Julia, dei altas gargalhadas, imaginando a cena, essa menina vai longe, ninguém consegue passar ela pra trás, também, puxou a mãe, rsrsrs.
Um grande beijo da sua cunhadinha.
"2 + 2".
Parceiro Diovvani - As cigarras me inspiram também e a piração é que o bichinho estoura de tanto cantar. Sei não, vou desconfiar como Julia, pois acho que cigarras gostam mesmo é de voar. Belo in poesia & prosa. Abraços poéticos/Riodaqui
as cigarras a mim dizem muito...
belas imagens, parabéns!
é isso aí, meu velho. streepteases costumam mesmo ser reveladores. encontraste nas cigarras uma bela metáfora para a perda, e em júlia um ótimo motivo para se apegar na vida. é nessa corda bamba que nós, tal qual equilibristas de circo, seguimos tocante o berrante (tal qual o seu vizinho). cum deus, velho.
E as crianças, que são olhinhos de Deus sobre a Terra, crús de qualquer vertigem ou cansaço, cambalhtando as compreesões da gente.
Seu lindo.
(é que hoje o cansaço era tanto, mas tanto, Dio, que faltou força prá chegar aí e sabiá também precisa ser par...foi namorar, ele disse, que o ofício de cantar é o segundo, o primeiro é amar)
Mas tá td bem.
**Estrelas imensa**
dio!
'no oco que ainda é mistério' encontramos as crianças brincando de gente grande e sabendo muito mais das coisas do que nós adultos podemos imaginar. Isso porque a criança tem, a cada momento, o poder de surpreender.
Sempre fiquei na dúvida se a cigarra 'implodia' ou voava de pois de trocar a casca... Como ela conseguia sair dali sem desmontar a casca seca?
Enfim, um detalhe: por curiosidade, dessa vez, eu curti mais sua prosa com Júlia!
Poeta[ ]s
Clauky
dio!
'no oco que ainda é mistério' encontramos as crianças brincando de gente grande e sabendo muito mais das coisas do que nós adultos podemos imaginar. Isso porque a criança tem, a cada momento, o poder de surpreender.
Sempre fiquei na dúvida se a cigarra 'implodia' ou voava de pois de trocar a casca... Como ela conseguia sair dali sem desmontar a casca seca?
Enfim, um detalhe: por curiosidade, dessa vez, eu curti mais sua prosa com Júlia!
Poeta[ ]s
Clauky
Dio-mais-lindo,
Acabou a rasgação de seda por enquanto, tem mais coisa lá...
Olha, venho aqui e pego minha saia de retalhos pra sentar no chão à vontade, de pernas cruzadas e sol-riso pronto.
Apaixonada por vc, viu?
Seu lindo!
Dio-mais-lindo,
Acabou a rasgação de seda por enquanto, tem mais coisa lá...
Olha, venho aqui e pego minha saia de retalhos pra sentar no chão à vontade, de pernas cruzadas e sol-riso pronto.
Apaixonada por vc, viu?
Seu lindo!
Diovanni, que bacanas! O poema, lindo!, e a história. Obrigado pelo comentário e parecer deixado no albergue. Volte sempre! Voltarei... Abraço!
Minino, o trem sumiu inexplicavelmente...mas agora tá lá de novo.......
**sem e-mail seu de manhã é muito chato.
**Estrela distraída**
Meu camarada, vi em teu poema uma paisagem tão minha, que conheço tão bem: essas Minas Gerais, repletas de cigarras cantando até a exaustão - muito bom mesmo, gostei do caminho reflexivo do poema. Engraçado, mas um dia a terra-útero... Pois é, essas crianças já sacam tudo - deve ser culpa do Google, não? Rs*
Enviei para ti alguns poemas meus, creio que o tempo já deva ter estourado, uma pena. Mas quem sabe. Abraços!
Meu camarada, vi em teu poema uma paisagem tão minha, que conheço tão bem: essas Minas Gerais, repletas de cigarras cantando até a exaustão - muito bom mesmo, gostei do caminho reflexivo do poema. Engraçado, mas um dia a terra-útero... Pois é, essas crianças já sacam tudo - deve ser culpa do Google, não? Rs*
Enviei para ti alguns poemas meus, creio que o tempo já deva ter estourado, uma pena. Mas quem sabe. Abraços!
meu querido amigo. vim e continuarei a vir aqui sempre. mas os problemas blogueiros não me deixam e sou obrigada a nova pausa. tudo de bom para você. e obrigada por tudo. um beijo. outro.
"Então ela voou pelada" foi demais, rs*... Amo crianças por isso: elas sabem tudo e mais um pouco!
beijos, querido
MM
Que texto lindo... que sensibilidade boa!
Gostoso de ler essa conversa e depois reler o poema. Casa tudo, casa tão bem...
Muito querido vc.
Me deixa felizinha lá, dando risada.
Beijos.
salve, Diovvani! Esperta a Júlia e toda essa molecadinha que já nasce sonhando segredos de asas...Bem, andei meio sumida daqui (coisas do mar)mas voltei hoje sentindo por aqui cheiros e cores conhecidas (a poesia da prosa, do dedo de café...). Grande abraço.
muito lindo tudo!
o poema bem construido e limpido escorre na inocência da natureza de uma paisagem
texto conto é ternulento e muito bem escrito.
parabéns ao tio e escritor.
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