poeminhas p/matar o tempo e distrair dor de dente.: janeiro 2007

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Postagem ao som da música Wish You Were Here - Pink Froyd. [OuçAquiÓ]
(Arte de Allen Jones)
ERA UMA VEZ UM PASSARINHO

O silêncio é mudo,
mas tem movimento.
Eu ví... Ele é como um gato,
engatilhando o salto;

no átimo antes
do disparo,
para saciar a fome
em cima do telhado.

Eu vi...
entre unhas-patas-dentes.
O silêncio piar, durante
o último vôo dumas penas.
...
Escreveu um dia - Paulo Leminski:
"Quem quer que a poesia sirva para alguma coisa não ama a poesia."

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Postagem ao som da música Meu Jardim- Vander Lee. [OuçAquiÓ]
(Pintura de Francis Bacon)

¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿

Eu gosto quando o sol
faz transparência,
no traseiro da tarde
de saia curta;
e, ela insinuante
ainda rebola:

a banda,
que inda, é dia
e a outra,
que é quase noite.

A orquestra dos bichos,
afina os instrumentos...
Começa o ensaio,
de ninar gente grande.

Eu apuro o ouvir.
Eu ganho de ver.
Eu desengasgo o sentir.
Eu quase tateio invisibilidades.

Eu gosto de vestir:
minhas pernas
nas sombras
das coxas
da noite longa.

De mãos dadas
andar com ela.
Comover-me,
amanhecer

em quada-livre,
saudando o sol,
que veio do Japão.

...

Escreveu um dia - Alphonsus de Guimaraes Filho:
"Não me busqueis no texto: eu fui sonhado."

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Postagem ao som da música Eu viajei de trem - Sérgio Sampaio.
AQUI NÃO TrEM, COISA COM COISA

Primeiro nevou num dos cílios
de minha sobrancelha direita.

Vejo agora que, o mesmo nevar alastrou aos fios,
da mini-floresta em meu peito.

Acho que sei: são os primeiros sinais de meu SuperDesAquecimento lobal
e, para compensar, a natureza uiva e faz, em mim nevar.

Cuidado! As linhas aqui são retas, mas no meu expressar – caduco e vario.

Ouvi notícia na tv que, serão mais quentes os dias no planeta.
Eleva-se à temperatura, mas chuvas resfriarão o entardecer.

Se teremos: sol e depois chuvas, pois que nasçam então muitos arcos
para dispararem prismas e multicoloRir a realidade nos espelhos abaixo de nossas íris.

Uns dizem que, foi Deus quem tramou tudo que existe.
Outros, ao contrário, que, tudo é uma puta-coincidência parida do acaso.

Eu não sei, sou colecionador de meras suposições e incertezas.
Ouço, um ali, outro acolá; pondero e fico, (ru)minando mais indagações.

Mas SintO: existe uma sabedoria escondida em tudo.

Acredito que a Terra: é o útero da via-láctea.
O Sol: o coração, que, jorra o sangue-luz e faz viver.

Os demais planetas? Ah,(...) devem ser outros órgãos do corpo lácteo
e, eu, sozinho, não dou conta de ir, correlacionando ao corpo humano.

Acho que quando morremos a terra-útero nos concebe
em outros (in)finitos fundos nunca findos-vindos.

Há dias em que tento em vãos capturar
O que, fora do tridimencional gravita.

É quando tento traduzir em palavras
sentimentos dispersos em outra órbita.

Mas tudo foge de minha compreensão enjaulada na carne.
Meu raciocínio sempre vacila, nas coisas de Deus ou algo que o valha.
***
Escreveu um dia - Jorge de lima:
"Não procureis qualquer nexo naquilo que os poetas pronunciam acordados"

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Postagem ao som da música Abertura nº 2 - Marco Antônio Araújo. [OuçAquiÓ]
TORÓ DE JANEIRO

I
Inaugurei
mais um
calendário.

Antiguidades
ainda cochicham,
imprecisas atrás de mim.

Como se fossem,
beatas
em procissão.


II
Um relâmpago trouxe-me
a lembrança de minha bisa:
- Anda menino, sai da rua, olha o toró...
Passa pra dentro. Deus está raiando...
Veste aqui, o paletó do seu avô...
Se não você constipa, danado!
Vai buscar o terço, vai...

III
A chuva
serena
meus pêlos

enquanto:

negrita
o verde
das folhas,

ressuscita
passadas
páginas.

IV
Meus passos
estão embriagados
de água.

O barro de janeiro,
pavimenta estrada
que não promete:

levar-me ao sol
de mais um
dezembro.

V
Mudo caminho
entre a multidão falante
que não vê:
a poesia muda
crescer.

Diante de pés
que calçam,
os velhos sapatos
das urgências.

- Hem ?